Os ambientes hospitalares estão sujeitos a todos os tipos de contaminação microscópica devido ao grande fluxo de pacientes debilitados e ao movimento de funcionários e visitantes pelo estabelecimento então quais os perigos das Pragas em Hospitais? . O movimento do exterior do hospital para seu interior pode ser responsável por disseminar, através das vestimentas, calçados e até superfície corpórea, determinadas bactérias que podem resultar em infecções hospitalares e atingir os mais debilitados.
Essa disseminação pode se agravar se dentro do hospital houver insetos circulando entre os diferentes ambientes, como formigas, moscas, mosquitos e até baratas. Esses animais adentram os hospitais através de portas, janelas e redes de esgoto, e podem transportar micro-organismos em seus corpos ao se locomoverem pelos ambientes do hospital, facilitando o transporte de bactérias resistentes a drogas.
Formigas
As formigas são os insetos responsáveis pelo transporte de grande parte dos micro-organismos que circulam dentro de um hospital. Esses pequenos animais são atraídos por substâncias químicas e materiais esterilizados, podendo contaminar exames, interferindo no resultado dos diagnósticos, além de contaminar alimentos. Além disso, as formigas são atraídas por ambientes com condições climáticas adequadas (temperatura e umidade), o que facilita sua dispersão pelo ambiente hospitalar. Formigas podem percorrer áreas extensas em um curto período de tempo, e essa característica desperta grande atenção quando se trata de um hospital.
Bactérias resistentes a antimicrobianos geralmente são encontradas em hospitais, o que aumentam as chances de uma formiga transportá-las de um ambiente a um paciente susceptível a contrair uma infecção. Dependendo da resistência dessa bactéria e da ala hospitalar que ela atingir, uma simples formiga pode ser responsável por um quadro de infecção hospitalar, devido à disseminação da bactéria.
As formigas podem ser controladas basicamente pelo uso de formicidas, sendo a maioria deles derivada de piretróides. No entanto, o uso de aspiradores, fitas adesivas e iscas para formigas também pode ser uma ótima forma de conter a proliferação destes insetos pelo ambiente hospitalar.
Na tabela 2 a seguir, observamos os principais grupos de micro-organismos isolados a partir de formigas presentes no ambiente hospitalar:
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS
|
FREQUÊNCIA ABSOLUTA
|
Bacilos Gram Positivos
|
132
|
Bacilos Gram Negativos
|
13
|
Cocos Gram Positivos
|
48
|
Leveduras
|
1
|
Fungos Filamentosos
|
14
|
TOTAL
|
208
|
Tabela 2. Relação de micro-organismos veiculados em formigas e a freqüência com que aparecem no meio hospitalar. (PEREIRA, Rogério dos Santos; UENO, Mariko. Formigas como veiculadoras de microrganismos em ambiente hospitalar. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 41, n.5, Oct. 2008.)
Moscas
Moscas são insetos com apenas 1 par de asas, cujas larvas necessitam de matéria orgânica, em decomposição ou não, para se desenvolver. Nos hospitais, podem ter acesso ao interior do recinto através de janelas, sendo atraídas principalmente pelo cheiro do sangue. Assim como as formigas, as moscas podem atuar como meio de transporte de bactérias e fungos, disseminando os micro-organismos pelos ambientes hospitalares, podendo gerar uma infecção hospitalar em grande escala, atingindo pacientes com saúde debilitada. Além disso, as moscas também podem depositar suas larvas na pele de pacientes, o que causará infecções e inflamações.
As larvas de moscas causam infecções ao se alojarem na pele de animais vertebrados. Estas infecções, chamadas de miíases, são popularmente conhecidas como bicheiras. As larvas se alimentam de tecido, vivo ou não, para completar o seu ciclo de vida, até atingirem a fase adulta, quando viram as moscas propriamente ditas.
As miíases podem ocorrer em diferentes tecidos, como pele, cavidades (bucal, nasal) ou até mesmo nos olhos ou regiões genitais. Para isso a maioria das moscas, ao entrar em um ambiente onde há um paciente debilitado e de movimentação restrita, pousa na superfície corporal e coloca seus ovos no tecido mais propício ao desenvolvimento da larva. Esta larva pode adentrar o tecido humano e iniciar seu estágio de desenvolvimento ou permanecer na superfície da pele enquanto cresce, gerando uma reação inflamatória no local.
Cada espécie de mosca possui preferências específicas para a desova. Existem moscas que só realizam a desova em tecidos vivos, como as cavidades nasal, bucal ou ocular. Nesses casos a larva pode se desenvolver sobre o tecido animal ou dentro dele, causando uma miíase que recebe o nome de obrigatória, ou primária, por se desenvolver somente em tecido vivo. Já as moscas que colocam seus ovos em matéria orgânica em decomposição causam as chamadas miíases secundárias, ou facultativas. Estas larvas podem se tornar um problema de saúde pública quando as moscas encontram tecidos necrosados em pacientes acamados, geralmente com feridas ou escaras. No entanto, além da desova em tecido humano vivo ou necrosado, as moscas podem depositar seus ovos não no paciente, mas no alimento que ele irá ingerir, caso não haja proteção durante o transporte ou armazenamento. Se o paciente ingerir o alimento contendo ovos dessa mosca, pode ter uma pseudomiíase, que poderá resultar em distúrbios do trato digestório.
As espécies de moscas também diferem quanto à quantidade de larvas colocadas por local. Existem espécies que depositam várias larvas sobre o tecido humano e a miíase se dá por uma infestação de larvas no local. No entanto, existem espécies, como a Dermatobia hominis, que depositam seus ovos em outras moscas, para que estas os transportem para um tecido humano. A larva da mosca Dermatobia hominis é conhecida popularmente como berne, e se desenvolve no interior da pele, causando inflamação e dor aguda na região da implantação. Outra mosca popularmente conhecida é a mosca varejeira, pertencente ao gênero de espécies Cochliomyia. Essas moscas causam miíases primárias e as larvas alimentam-se de tecido, com a boca mergulhada no tecido e a parte posterior em contato com o ar.
Embora não seja uma espécie causadora de miíase, a mosca mais comumente encontrada (e popularmente chamada de mosquito) – a Musca domestica – é um dos insetos mais comuns aos ambientes domiciliares brasileiros. Sua presença em hospitais também deve ser vista com atenção, pois as moscas domésticas, apesar de não produzirem larvas que se alimentem de tecido humano, são veiculadoras de diferentes parasitas e bactérias, e seu contato, principalmente com os alimentos dos pacientes, pode ser responsável pela infecção de pacientes debilitados.
Além do contato direto com o paciente, as moscas podem ainda trazer outros prejuízos aos laboratórios hospitalares se entrarem em contato com os materiais de exame (ex: sangue, urina, líquidos corporais e fezes). Por veicularem micro-organismos, como fungos e bactérias, as moscas podem interferir com os resultados dos exames se entrarem em contato com uma amostra. Essas interferências podem resultar em laudos falso-positivos ou falso-negativos, implicando em um tratamento inadequado do doente e comprometendo sua saúde e, possivelmente, sua vida.
É possível eliminar moscas utilizando-se inseticidas, como piretróides, mas existem meios alternativos mais seguros para evitar que estes insetos se espalhem pelo ambiente hospitalar. Armadilhas com fitas adesivas para moscas podem ser utilizadas, contendo ou não atrativos não tóxicos. Essas formas de controle podem ser responsáveis por retardar uma desinsetização e se tornar uma medida preventiva de grande importância. Além disso, a utilização de luz ultravioleta (luz UV) também auxilia no controle desses insetos.
Outros Insetos
Outros insetos, como baratas e mariposas, também podem ocupar áreas hospitalares, provocando a dispersão de doenças. As baratas podem ter acesso ao local pela rede de esgoto e, da mesma forma que as formigas, a periculosidade do seu acesso ao hospital se deve às bactérias e fungos que pode carregar consigo, contaminando áreas que deveriam permanecer estéreis, como unidades de tratamento intensivo, entre outros. O uso de ralos fechados e um monitoramento periódico do sistema de água e esgoto do hospital podem evitar o acesso de baratas ao interior dos prédios, assim como eliminar fontes de umidade e alimento. Iscas contendo inseticidas também são medidas sanitárias importantes, principalmente por serem uma fonte menos volátil, contaminando menos o ambiente.
Mariposas e outros insetos voadores podem ser evitados com vedação de espaços entre janelas e uso de telas de proteção em saídas de ar e áreas de ventilação. A importância em se evitar o contato destes animais com os pacientes se deve não somente em conter micro-organismos patogênicos. Mariposas e pequenos insetos voadores podem acidentalmente se alojar acidentalmente em cavidades (como ouvido) dos pacientes, causando desconforto e irritação, até que o animal seja retirado com auxílio médico.
Aves
Pombos também podem tornar-se um problema quando próximos ao ambiente hospitalar. Por fazerem seus ninhos nos forros dos telhados e pousarem nos parapeitos das janelas, essas aves acabam defecando nestes locais, podendo transmitir doenças através de suas fezes, além de serem importantes reservatórios urbanos de piolhos. Além de bactérias, as fezes de pombos podem carregar fungos e o contato com os excrementos contaminados pode causar quadros de criptococose, histosplasmose, salmonelose, ornitose, dermatites e alergias. Criptococose, histosplasmose e ornitoses são micoses transmitidas por fungos presentes nas fezes dos pombos. Os esporos desses fungos (forma reprodutiva, que geralmente causam doenças e/ou alergias) são inalados pelo ser humano, podendo causar sintomas pulmonares como tosse e dor torácica, além de febre e cefaléias. A melhor maneira de se evitar que pombos tenham acesso aos parapeitos de janelas hospitalares é instalando lanças protetoras, para evitar que as aves pousem no local.
O maior problema com insetos que um hospital pode enfrentar deve-se geralmente àqueles animais que conseguem adentrar o ambiente hospitalar. No entanto, o cuidado com as áreas externas ao hospital também são medidas preventivas que evitam a proliferação de grande parte dos artrópodes (insetos, aracnídeos e, eventualmente, crustáceos – como os tatuzinhos de jardim) que representam risco aos pacientes do estabelecimento. A desinsetização de jardins e áreas comuns não pode ser esquecida, assim como o controle de ervas daninhas. Estas plantas podem se tornar fontes de alimento e umidade para a procriação de insetos e fungos, o que pode causar reações alérgicas em pacientes mais sensíveis. Removê-las com jatos d’água, manualmente ou utilizando água e sabão são medidas alternativas ao uso de herbicidas.
|